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A Linha Defensiva do Mondego foi um espaço de fronteira peninsular, ao separar os reinos de Leão e Castela do emirado de Córdova ou dos reinos Taifas, mas também um espaço de fronteira europeia, se considerarmos a divisão entre o bloco da Cristandade e o Islão.

Com enorme visibilidade europeia, a luta por esta linha foi equiparada em importância pela Santa Sé à peregrinação ou cruzada a Jerusalém, numa relação direta entre os perigos imediatos e as benesses espirituais alcançadas.

A partir de 1085, em resposta à reconquista de Toledo pelas tropas cristãs, os muçulmanos pedem apoio aos Almorávidas, dinastia marroquina particularmente aguerrida e zelosa dos valores islâmicos. São eles que, na Batalha de Zalaca, travada em 1086, derrotam Afonso VI. É agora a vez dos cristãos recorrerem ao auxílio dos reinos de Alem-Pirenéus, ao auxílio de Roma e do Papa. Apelo que trará à Península Ibérica, e a esta fronteira em particular, um grande número de francos, cavaleiros, filhos segundos da nobreza desejosos de fama e fortuna, mas também clérigos pertencentes a ordens religiosas, com destaque para Cluny. O confronto agudiza-se e as posições extremam-se praticando-se, de parte a parte, a "guerra santa".


Um território vasto e não uma linha contínua
A Linha Defensiva do Mondego não pode ser interpretada como uma linha contínua e bem definida. Pelo contrário, e sobretudo durante o século XI, a fronteira foi um espaço irregular onde os poderes centrais dificilmente dominavam. Quanto mais distanciados fossem esses territórios mais frágil seria esse domínio, aumentando em contrapartida, o protagonismo dos chefes locais, que atuavam por vezes com grande autonomia. Como refere José Mattoso, a “fronteira constituía um convite à independência”. Nestes extensos territórios de ninguém, as fidelidades eram precárias, prevalecendo as revoltas e alianças mais vantajosas no momento.


Espaço de convivência, permeabilidade e influências múltiplas
Num território instável, a convivência entre populações de culturas e credos diferentes foi uma realidade inevitável, caracterizando a existência de um quotidiano social que muitas vezes decorria de forma independente das forças políticas vigentes, com solidariedades, relações pacíficas, trocas comerciais e culturais.

Importa, assim, caracterizar a fronteira como espaço de síntese entre duas culturas, aspeto que deixou marcas até hoje, por exemplo, nos domínios da toponímia ou da gastronomia.

No decorrer do século XI a região de Coimbra foi um dos mais prósperos centros moçárabes (população cristã cujo quotidiano decorria sob domínio político islâmico) tendo à sua frente D. Sesnando Davides, um exemplo perfeito dessa permeabilidade entre o mundo Cristão e Muçulmano. Originário de Tentúgal (hoje concelho de Montemor-o-Velho) e ao que tudo indica levado para o sul ainda criança, Sesnando Davides foi criado em Córdova tendo chegado a desempenhar cargos importantes na corte de Sevilha. Por razões que em grande parte desconhecemos, abandonou o lado muçulmano, colocando-se ao serviço das tropas cristãs. Após a reconquista de Coimbra, em 1064, D. Fernando Magno entregou-lhe o governo da cidade, ficando sob seu controlo toda a região do vale do Mondego até 1091, ano da sua morte. Sesnando é uma figura incontornável para os Castelos e Muralhas do Mondego, pelo seu envolvimento na construção ou atualização das nossas estruturas defensivas.


Espaço de conflito armado, de instabilidade e perigos
Ao longo dos séculos o conflito variou de tom e sentido, oscilando entre períodos de convivência com outros de marcada militarização e intransigência religiosa, sobretudo com a chegada dos almorávidas (1086) e dos almóadas depois. Para o extremar de posições contribuíram as invasões de Yusuf e de Yaqub Almançor ou a exortação à cruzada que os Francos vindos do Norte traziam consigo.

Entre os episódios que caracterizam essa intransigência, veja-se como os habitantes do castelo de Soure, face à investida muçulmana e temendo não resistir, abandonaram o lugar depois de o incendiarem.


Polos de união
Com o avanço da linha de fronteira para o Tejo e com o subsequente distanciamento em relação à linha de guerra, os castelos do Mondego adaptam‐se a uma nova realidade: pólos ordenadores do território, encabeçam a administração unindo as populações em torno de uma ideia de rei e de reino progressivamente mais forte e consolidada. E naturalmente, continuam a defender o território, agora de eventuais invasões dos reinos vizinhos. Por isso, as nossas estruturas defensivas, no decorrer dos séculos XIII e XIV, permanecem em uso, sendo objeto de benfeitorias várias, sobretudo aquelas que se situam ao longo dos principais caminhos que das fronteiras levavam à capital.