As benzelhices que aqui são apresentadas resultaram da recolha de memórias realizada com 15 IPSS’s no âmbito do projeto “Caixa de Memórias”. Foram recolhidas 76 benzelhices, entre rezas e ladainhas populares, entre curas e mezinhas caseiras. Neste capítulo, é apenas apresentada uma pequena parte destas memórias recolhidas.
Para afugentar as bruxas
Deitam-se numa telha brasas bem acesas e sobre elas lançam-se alguns ramos de alecrim bento e de louro, uma mão cheia de sal e um fio de azeite da lâmpada do Santíssimo Sacramento. Defuma-se a casa três noites seguidas, ao dar da meia-noite e depois deitam-se as brasas ao mar.
(Universidade Sénior Figueira da Foz)
Ladainha para as raparigas solteiras que querem casar
São Bartolomeu – casar quero eu
São Ludovico – com um moço rico
São Nicolau – que não seja mau
São Benedito – que seja bonito
São Jeremias - me leve às Romarias
Santa Felicidade – que me faça a vontade
São Benjamim – que seja doido por mim
Santo André – que não cheire a rapé
São Silvino – que tenha muito tino
São Gabriel – que me seja fiel
Santa Aniceto – que se deixe estar quieto
São Miguel – que dure muito a lua-de-mel
São Bento – que não seja ciumento
Santa Margarida – que me traga bem vestida
São Simão – que tenha bom coração
Santíssima Trindade – que me dê felicidade.
(Universidade Sénior da Figueira da Foz)
Tirar o cobranto
Tens cobranto
Eu to tirarei
Com três palhas alhas
Com três maravalhas
Com três peidos meus
Com três dos do São Mateus
E com três do meu cão
Vai-te embora cobranto
Que já estás são.
(Sra. Maria do Carmo Coelho, Casa do povo de Abrunheira)
Reza para as trovoadas
As velhas de Buarcos em ocasiões de trovoadas queimavam alecrim e rosmaninho de um ramo benzido na procissão da Via Sacra da última quaresma e rezavam esta oração:
São Jerónimo se levantou
Seus pezinhos e suas mãos lavou
Seu caminhinho andou
E Santa Bárbara o encontrou
Santa Bárbara lhe perguntou:
Onde vais tu Jerónimo?
Vou espalhar estas trovoadas
Então vai e espalha-as bem espalhadas
para onde não haja mulher com menino,
nem vaca com bezerrinho,
nem erva nem beira
nem raminho de figueira
nem pedra de sal
nem onde ela faça mal.
(Universidade Sénior da Figueira da Foz)
Ao deitar ovos numa galinha
Em louvor de São Salvador
Nasçam tudo frangas
E só um galador.
(Universidade Sénior da Figueira da Foz)
Cura para a Asma
O sangue de bode é bom para curar a asma.
Matar um borracho, abri-lo e colocá-lo sobre o peito.
(Universidade Sénior da Figueira da Foz)
Cura para o Cobrão
Eu te curo o cobrão com a água da fonte e feno do monte (folha de couve).
Se és sapo ou aranhão eu te corto a cabeça, o rabo e o coração.
(Com uma faca vai-se cortando o cobrão, molhando na água. Põe-se a folha de couve dentro de água e replica-se até ao fim, à medida que se vão dizendo as palavras.
Depois de se ter dito três vezes, joga-se a água fora para a terra do vizinho.
Repete-se durante três dias.
(Sra. Maria da Silva Duarte, Lar Clemente Carvalho)
Cura para a constipação
Aguardente num prato de esmalte com umas colheres de açúcar amarelo. Leva-se ao lume e apagar quando o álcool se evaporar todo. De seguida beber “à colherada”.
(Sra. Emília Farias, Casa do Povo de Abrunheira)
Cura para Dor de dentes
Santa Apolónia chorava
Sentada à porta do Céu
Quando ao passar por ali
A virgem lhe apareceu:
Apolónia, tu que tens
Que assim choras sem cessar?
Tenho uma dor de dentes
Que me faz desesperar
Nem de dia, nem de noite
Eu já posso descansar.
Por Jesus sacramentado
Que eu já trouxe no meu ventre
Podes ficar descansada
Nunca mais te dói o dente.
Santa Apolónia bendita
Pela mãe do redentor,
Eu vos peço de joelhos
Que me tirais desta dor.
(Universidade Sénior da Figueira da Foz)
Cura para Dor de ouvido
Utiliza-se sangue de galo novo, farinha de trigo ou centeio, clara de ovo, aguardente, vinagre, incenso macho, mel de enxame novo e três dentes de alho. Prepara-se esta mezinha na madrugada de São João, estende-se num pano e põe-se na boca do estomago dizendo:
Santo Ouvideo (Óvideo)
Tirai-me esta dor
Em nome do Senhor
Da virgem Maria
Aleluia Aleluia!
(Universidade Sénior da Figueira da Foz)
Espinhela Caída
(Para crianças)
Deita-se a criança em cima de uma mesa, toda esticada, e vê-se se os pés e as mãos estão direitas. Põe-se azeite em cima do umbigo e diz-se as palavras:
“Quando o padre se veste e reveste e sobe ao altar, vamos curar esta criança”.
Depois ata-se uma fralda na barriga. Repete-se durante três dias.
(Sra. Maria da Silva Duarte, Lar Clemente Carvalho)
Problemas de bexiga
Chá de barba de milho, mais grama, mais píncaro de cereja preta, para aliviar as dores.
Chá de pés de cereja preta.
(Sras. Lucinda Gaspar e Emília Henriques, Casa do Povo de Abrunheira)
Tosse
Xarope de cenoura: Rodelas de cenoura, colheres de açúcar mascavado, colocar ao relento da noite e tomar com colher.
(Sra. Emília farias, Casa do Povo de Abrunheira)
Lavar os caracóis e colocar atados num pano, com um prato em baixo. Apanhar o “ranho” dos caracóis e pôr açúcar amarelo. Bater bem e beber com colher.
(Sra. Palmira Leitão, Casa do povo de Abrunheira)
Cortar a pele de uma cobra aos pedacinhos e ferver com água. Comer e beber este preparado.
(Sra. Lucinda Gaspar, Casa do Povo de Abrunheira)
Leite de burra preta.
(Sra. Emília Costa Henriques, Casa do povo de Abrunheira)
Apanhar uma cana verde, abrir e colocar açúcar amarelo lá dentro, colocar ao relento durante a noite e posteriormente chupar.
(Sra. Maria do Carmo Coelho, Casa do Povo de Abrunheira)
Urzipela
Pedro e Paulo foi a Roma, encontrou Jesus no caminho. Jesus perguntou:
Donde vens Pedro e Paulo?
Venho de Roma.
O que é que há por lá de novo?
Há por lá muita urzipela e urzipelão.
Pois volta atrás e vai curá los.
Com quê, meu senhor?
Três folhinhas de oliveira, azeite bento, que é a graça do Santíssimo Sacramento.
Pai Nosso | Avé Maria
(Faz-se três vezes ao dia).
(Sr. Manuel António, Lar Clemente Carvalho)